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Turismo com animais selvagens, a dor que causamos

Em Lucky Beach, na ilha de Phuket, uma família diverte-se durante uma sessão fotográfica com elefantes juvenis. Muitos viajantes desconhecem o treino a que os elefantes são sujeitos e vêem estas experiências pitorescas como oportunidades especiais. Na Tailândia, há cerca de 3.800 elefantes em cativeiro. Mais de metade trabalha na indústria do turismo.

 

As experiências de contacto directo com animais exóticos estão na moda, estimuladas pelas redes sociais. No entanto, nos bastidores, os animais envolvidos em actividades turísticas costumam levar uma existência miserável.

 
 

Pouco depois do crepúsculo, viajo num carro que se desloca penosamente sobre uma estrada lamacenta, no meio da chuva, passando por filas de elefantes presos com grilhetas. Estive aqui há cinco horas, quando o Sol brilhava, quente e alto, e os turistas passeavam, montados em elefantes. 

Agora, avanço a pé e mal consigo avistar o caminho iluminado pela lanterna do meu telemóvel. Quando o poste da vedação me trava, sigo o caudal da água da chuva que desliza pelo chão de betão até atingir três grandes patas cinzentas. Uma quarta pata está levantada, fortemente apertada por uma corrente e sufocada por um aro de espigões metálicos. Quando a fêmea de elefante se cansa e pousa a pata, os espigões enterram-se ainda mais fundo no seu tornozelo. 

 
 

Meena tem 4 anos e 2 meses, o equivalente a 2 ou 3 anos humanos. É portanto uma bebé grande. Khammon Kongkhaw, o seu mahout, ou tratador, disse-me antes de ali chegar que Meena está presa com uma corrente com picos porque tende a dar coices. Khammon é o responsável por Meena no Parque de Aventuras com Elefantes de Maetaman, perto de Chiang Mai, no Norte da Tailândia, desde que ela tinha 11 meses. Disse-me que só coloca a corrente durante o dia e que a retira à noite. Neste momento, já é noite. 

Maetaman é um de muitos parques com animais existentes em Chiang Mai, região repleta de turistas. As multidões trepam todos os dias para as trombas dos elefantes. Espicaçados pelos aguilhões (varas longas munidas de um gancho metálico afiado na ponta) dos mahouts, os animais erguem os turistas no ar enquanto as máquinas fotográficas disparam. Os turistas observam os mahouts a aguilhoar os elefantes – um dos animais mais inteligentes do planeta – para que eles atirem dardos ou pontapeiem enormes bolas de futebol.

 

Meena é um dos dez elefantes do espectáculo de Maetaman. Para ser mais exacta, ela é uma pintora. Duas vezes por dia, Kongkhaw coloca um pincel na ponta da sua tromba e pica-lhe o rosto com um prego de aço para lhe guiar as pinceladas de cores primárias que arrasta sobre o papel. Muitas vezes fá-la pintar um elefante selvagem na savana. Os seus quadros são vendidos aos turistas. 

A vida de Meena foi planeada para seguir um curso idêntico ao de aproximadamente 3.800 elefantes que vivem em cativeiro na Tailândia e muitos outros milhares por todo o Sudeste Asiático. Actuará em espectáculos até ter cerca de 10 anos. Depois disso, passará a ser um animal para montar: os turistas sentar-se-ão sobre um banco amarrado ao seu dorso, realizando vários passeios por dia. Quando Meena estiver demasiado velha ou doente para ser montada (entre os 55 e os 75 anos), morrerá. Se tiver sorte, beneficiará de alguns anos de reforma. Passará grande parte da vida acorrentada dentro de um estábulo. 

 

Os parques com animais selvagens, como o existente em Maetaman, atraem pessoas de todo o mundo para conviver com animais como Meena, representando uma fatia lucrativa da florescente indústria de viagens mundial. Actualmente, o número de viagens internacionais duplicou em relação ao de há 15 anos.

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