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“PARASITAS” o filme que vai revolucionar Hollywood

Parasitas no panteão de todas as glórias. O filme de Bong Joon Ho confirmou a possibilidade de surpresas e foi o grande vencedor desta 92ª edição dos prémios da Academia. Bong Joon-ho e a sua tradutora foram as figuras da noite. Uma vitória que esmaga 1917, filme de Sam Mendes, o favorito da noite, apenas premiado por três vezes em categorias técnicas. Os quatro Óscares de Parasitas abrem a possibilidade de conseguirem revolucionar um sistema.

 

É o primeiro filme em língua estrangeira a vencer a categoria de melhor filme. A partir de agora, abre-se um precedente que mudará por completo a maneira como os Óscares serão percecionados. Uma mudança que cheira a revolução completa e que poderá ter sérias consequências na própria indústria ao mesmo tempo que se assiste aos efeitos da chegada em força da Netflix. O cinema do mundo pode assim começar a implantar-se mais no próprio organismo de Hollywood.

 
 

Mais importante de tudo, Parasitas combateu a previsibilidade de toda a distribuição da temporada dos prémios evitando-se assim um embaraço cada vez maior para a Academia, que ainda assim repetiu nos atores tudo o que as outras cerimónias já tinham premiado. A edição número noventa e dois fez trinta e uma linha para ter caixinhas de surpresas para contornar as já tão anunciadas vitórias dos favoritos. O estrondo da vitória coreana ajudou a que não houvesse a rotina que se esperava. Isto numa cerimónia onde a realização não sabia onde estava a ação inesperada a acontecer (sobretudo na invasão da equipa de Parasitas aquando da vitória no melhor filme) ou quando registava uma câmara a cair para o chão, mulheres de vencedores a irem para o palco com a pochete debaixo do braço e outras bizarrias como Scorsese quase a adormecer a ouvir Eminem.

Noite onde também os votantes da Academia fizeram questão de não deixar de fora Jojo Rabbit, a farsa anti-nazi de Taika Waititi, vencedor do melhor argumento. Não foi surpresa nenhuma depois de tanto “buzz” na temporada dos prémios. Surpresa foi a ausência de humor ou rasgo no discurso do realizador, alguém que costuma ser um showman nos palcos. O maior derrotado da noite foi um muito sorridente Martin Scorsese, o seu O Irlandês tinha 10 nomeações e não venceu nenhuma estatueta, mesmo tendo direito a uma ovação em pé por interposto agradecimento do vencedor sul-coreano.

 
 

Joaquin Phoenix venceu finalmente um Óscar e quase se desfazia em lágrimas quando evocou o irmão River, mas o seu discurso em prole das injustiças pareceu cartilha da brigada do politicamente correto, mesmo que bem mais emotivo que o de Renée Zelwegger, vencedora em Judy. A atriz texana fez um aborrecido discurso com agradecimentos e clichés atrás de clichés.

Quanto à ausência de apresentadores, a cerimónia aguentou-se melhor do que o ano passado. Houve dinamismo e a escolha para o monólogo quase inicial de Chris Rock e Steve Martin foi uma solução de compromisso à altura. Os dois ex-apresentadores fizeram as bicadas mais ásperas relacionadas com a ausência de Eddie Murphy e das mulheres realizadoras, enquanto Kristen Wiig e Maya Rudolph fizeram furor com uma química de humor muitíssimo bem escrita.

 

Depois, claro, os pequenos acidentes humanos. Diane Keaton a ser igual à Diane Keaton dos filmes de Woody Allen e a ver-se aflita com um envelope ou Laura Dern de lágrima no canto do olho a agradecer o Óscar ganho por Marriage Story, de Noah Baumbach. Momento sublinhado pela realização quando a câmara apanha Greta Gerwig também a chorar (Dern é também atriz em Mulherzinhas). Hilariante igualmente a rábula de Julia Louis Dreyfuss e Will Ferrell a trocar as voltas às funções do diretor de fotografia e do montador.

Mas a Academia apostou em força na magnitude do gesto do musical. As coreografias das canções nomeadas voltaram a fazer lembrar os bons velhos tempos dos Óscares, embora o maior momento tenha sido Eminem numa evocação a 8 Mile num especial sobre as canções que venceram o Óscar. Um Eminem em grande forma a rentabilizar o seu comeback. Verdadeiro golpe de rins desta cerimónia. E se o tom da piada era sempre uma espécie de “roast” à própria falta de diversidade nas nomeações, não deixa de ser significativo a vitória de muitas mulheres em categorias técnicas e mais secundárias.

 

Antes de tudo, à entrada, um ano de dourados e cintilantes, as atrizes fizeram questão de brilhar literalmente na passadeira vermelha. Uma passadeira vermelha que apresentou uma diversidade racial nada em rima com a falta da mesma nos nomeados. Não foi acaso numa noite em que se ficou com a sensação que Academia esteve em pleno ato de contrição com as ausências de diversidade e de realizadoras. E muito menos acaso o facto de a capa Dior de Natalie Portman ter bordado os nomes das cineastas ignoradas pela Academia. Mas depois do furacão Parasitas a Academia nunca mais vai voltar a ser a mesma…Resta esperar agora para ver se em Portugal alguém tem coragem de mostrar a nova versão a preto & branco de Parasitas, estreada e premiada recentemente no Festival de Roterdão.

IN: DN

 

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