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As dívidas futuras das faturas presentes

A dívida pública é um dos temas que marca, indubitavelmente, a governação no século XXI, quer falemos de autarquias locais, quer falemos do Estado central.

 

Assim, a dívida total Portuguesa era, em 1975 de 15% do PIB. Quer isto dizer, grosso modo, que em 1975 devíamos 15% da riqueza total produzida num ano em Portugal. Em 2003 era já de 56% do PIB, contudo, ainda atrás da dívida da maioria dos países da União Europeia. Todavia, a partir de 2008, iniciou-se uma escalada desenfreada, que se fixa atualmente em 129% do PIB.

 
 

Pensemos, por momentos, que governar Portugal é o mesmo que gerir um orçamento familiar: sendo o rendimento líquido desse agregado familiar de 14 000€/ano. Contudo, essa família deve aos bancos 18 000€, divida essa que, todos os meses acarreta uma pesada fatura de juros. Perante este cenário difícil, é do senso comum que o caminho passa por abater essa dívida, com dois objetivos primordiais: reduzir o montante total do passivo e, principalmente, pagar cada vez menos juros. Numa palavra, é preciso poupar.

 

 
 
 Serão os mais jovens a pagar a fatura. E com juros, com muitos milhões de juros.

Serão os mais jovens a pagar a fatura. E com juros, com muitos milhões de juros.

 

 

Todavia, pasmem-se os mais incautos, esta família, ano após ano, além de não poupar, gasta sistemática e ininterruptamente, 18 000 a 20 000€. Aumentando assim, o valor total da dívida e a fatura mensal de juros.

Se o exemplo fosse este, todos saberiam que o final não poderia ser feliz.

 

Então por que razão quando se trata do país ou de uma autarquia, pensamos de forma diferente?

Mais uma vez, no caso da família do nosso exemplo, quem viria a pagar as dívidas seriam os filhos. Ora, com Portugal passa-se precisamente o mesmo. Serão os mais jovens a suportar esta loucura. Serão os mais jovens a pagar a fatura. E com juros, com muitos milhões de juros.

 

Neste sentido, é com enorme tristeza que vejo os sucessivos governos democráticos congratularem-se com valores do défice de 3% ou 4%. Festejam o facto de estarmos a onerar as gerações futuras em mais 3% ao ano. Que grande vitória esta.

Espero a bem do futuro que o paradigma mude, que a governação seja séria e disciplinada, com rigor e trabalho, para que as gerações futuras tenham opções políticas e sociais a tomar.

Para que as gerações futuras possam almejar algo mais do que pagar a pesada fatura das gerações presentes.

 

Texto de Cristiano Pinheiro

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