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A vencedora das Europeias: a abstenção

O PS venceu as eleições europeias. O PSD teve uma derrota histórica e o Bloco é a terceira força política. Sete leituras que se podem fazer das eleições deste domingo.
O PS ganha sem subir muito, mas a vitória é clara perante as derrotas do PSD, do CDS e do PCP. Rio tem o pior resultado percentual da história do PSD. A surpresa da noite foi a eleição de Francisco Guerreiro do PAN. E no Parlamento Europeu pela primeira vez não há uma maioria de conservadores e socialistas.

 


O PS venceu as eleições europeias de domingo com 33,40% dos votos e o PSD não terá ido além dos 22.20%. O Bloco de Esquerda chegou ao terceiro lugar do pódio, o PCP e o CDS perderam e o PAN foi a surpresa da noite ao colocar um eurodeputado pela primeira vez no Parlamento Europeu. Mas afinal o que significa isto tudo?
O PS foi o partido mais votado no distrito de Braga nas eleições europeias de ontem, com 33,50% dos votos, quando estão apurados os resultados das 347 freguesias, segundo os dados oficiais da Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna.

 
 


Em Vieira do Minho o PSD ganhou as eleições europeias com 39,09% contra 33,82 do PS e a abstenção nos 71,00%.
Mas claramente quem ganhou as eleições em Portugal foi a abstenção com um novo recorde 70,5%.


Não, não foi o sol e praia que fizeram com que mais de dois terços dos eleitores não fossem votar. Mais de 68% dos eleitores não foram votar porque não quiseram. E se querem procurar dois culpados, concentremo-nos nestes: classe política portuguesa e a União Europeia.
Primeiro, os políticos. De acordo com a sondagem publicada este sábado pelo Expresso, apenas 55% dos portugueses sabiam que as eleições do dia seguinte servia para eleger os membros do Parlamento Europeu. É uma percentagem incrivelmente baixa mas que demonstra bem o afastamento colossal que os portugueses sentem em relação ao órgão do legislativo europeu.

 
 


E por que razão existe esse afastamento? Em primeiro lugar, os eleitores não sabem o que fazem os seus representantes porque estes simplesmente não lhes prestam contas. Cada vez mais, e com o alargamento de competências do Parlamento Europeu, decidem-se questões fundamentais em Bruxelas para a vida dos portugueses mas nenhum dos eurodeputados nacionais consegue comunicar o que quer seja com o seu eleitorado. Vão viver para Bruxelas e só dão sinais de vida ao fim de cinco anos — para tentarem renovar um novo mandato.


Portanto, é perfeitamente normal que apenas 55% dos inquiridos da sondagem do Expresso sabem que o são as eleições europeias mas só 31% consegue dizer o nome de um eurodeputado português.
Acresce a tudo isto o facto de os eurodeputados portugueses serem muito pouco influentes e da classe política portuguesa ter desde sempre uma relação claramente subserviente com Bruxelas. Tudo pormenores que não ajudam a reforçar a confiança entre eleitores e eleitos

 


Costa saiu vencedor das eleições europeias, onde obteve vários avanços positivos. Foi o partido com maior percentagem de votos (34,40%) e maior número de eurodeputados sentados em Estrasburgo. Mais: cresceu face ao resultado de 2014 quando teve 31,46% dos votos, ainda não sendo certo a esta hora se aumenta o número de eurodeputados face aos sete de 2014. Além disso, os socialistas conseguiram garantir uma larga distância de segurança face ao PSD, que ficou em segundo lugar, com 22,20%. Conseguiu ainda contrariar uma das ideias comuns na análise política que é a de que, nas europeias, os eleitores penalizam o partido que está no poder. No entanto, é ainda difícil perceber que impacto este resultado poderá ter nas legislativas de 6 de outubro. Principalmente, porque a taxa de abstenção bateu um novo recorde e ninguém sabe ao certo se os eleitores das europeias são os mesmos das legislativas. Contudo, há um número que pode servir de alerta para obrigar o PS a olhar para as legislativas com atenção. É que mesmo com uma política de devolução de rendimentos durante a legislatura, com a economia a crescer e o desemprego a recuar, o PS parece estar longe dos cerca de 1,5 milhões de votos que conseguiu em 1999 e 2004.


PSD teve o pior resultado de sempre

 


Quando concorreu sozinho nas eleições europeias, o PSD conseguiu sempre um resultado superior a 30%. Nas eleições deste domingo, ficou-se pelos 21,94%, segundo os resultados quase finais. O PSD não só teve um mau resultado, em percentagem, como pode não ter conseguido aumentar o número de eurodeputados — em 2014 elegeu seis. Além disso, uma análise aos dados sobre o número de votos mostra que o PSD perdeu muito apoio desde a última vez que foi sozinho a eleições. Face a 2009, quando PSD e CDS foram separados, os sociais-democratas perderam à volta de 400 mil votos. Rio mantém-se como líder para concorrer às legislativas de outubro, mas esta derrota não deverá facilitar o caminho até lá. Os eleitores penalizaram a estratégia política de Rio, que desde o início teve dificuldades em manter o partido unido à sua volta.


Bloco ganha balanço, PAN surpreende e CDS perde

 


O Bloco de Esquerda chega ao terceiro lugar, ao conseguir 9,82% dos votos, um aumento face aos 4,56% de 2014. Com esta vitória, e ao contrário do que aconteceu à CDU, o Bloco parece ter saído a ganhar mais do que o PCP com a geringonça — um facto aliás já notado nas eleições autárquicas de 2017. Quanto ao PAN, a surpresa foi total — e apanhou desprevenidos até os próprios responsáveis do partido. O PAN chegou à Assembleia da República em 2015 e quatro anos depois entra no Parlamento Europeu, ao capitalizar para si causas muito atuais, ligadas à ecologia, aos animais e às questões das alterações climáticas. Já o CDS saiu a perder, o que parece indicar que os bons resultados de Assunção Cristas nas autárquicas não tiveram reflexo nas eleições para o Parlamento Europeu.


Esquerda sai reforçada. Direita perde


A noite de domingo foi cheia de recados sobre a divisão esquerda direita no plano político nacional. Tanto PSD como CDS saíram derrotados. Por outro lado, PS e BE reforçaram a sua posição face aos resultados de há cinco anos. Já o PCP foi penalizado, com o resultado a ficar em cerca de metade do que foi conseguido em 2014. Esta conjugação de resultados levou os líderes dos partidos à esquerda a sublinhar a importância do reforço deste bloco em detrimento do bloco da direita, formado por PSD e CDS. Até do Aliança, o partido criado pelo ex-militante do PSD, Pedro Santana Lopes, chegou um aviso: “Talvez agora alguns percebam a importância de uma proposta que fiz de uma convergência de centro direita”, disse Santana. Cristas admitiu que houve uma “polarização” no seu espaço político.


PS na mesma em Lisboa, BE ganha muitos votos


A distribuição dos votos pelo território nacional é um dos indicadores mais finos para que os partidos olham para medir com mais certezas o seu resultado. Um dado curioso é que apesar de ter vencido as eleições, no concelho de Lisboa teve um resultado muito próximo ao de 2014. Um salto muito significativo foi dado pelo Bloco de Esquerda que duplicou a percentagem de votos face a 2014. Os votos nos grandes centros urbanos são decisivos em legislativas — só no distrito de Lisboa estão mais de 2 milhões de eleitores.
Os mais pequenos: PAN vinga, Aliança, Livre e Iniciativa Liberal ficam pelo caminho
Entre os partidos mais pequenos, só um — o PAN — conseguiu um lugar nas cadeiras do Parlamento Europeu. Os restantes não conseguiram esse feito. No entanto, os projetos podem não ter ficado por aqui. O Aliança, por exemplo, dizia no domingo que ia ver os dados melhor, principalmente, em Lisboa.

IN: Observador / Publico / O Minho

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